Muito embora o fenômeno Nem-Nem (nem quer trabalhar e nem quer estudar) possa apresentar variações contextuais, que dependem sempre das classes sociais, do gênero, da etnia, das expectativas do grupo familiar de que fazem parte, ele parece apresentar algumas características comuns que merecem ser consideradas sociologicamente. Os jovens da Geração Nem-Nem não são necessariamente inativos economicamente ou completamente alheios a importância da qualificação; muitas vezes os jovens Nem-Nem possuem ocupação profissional e se encontram inseridos em cursos de formação, mas por razões diversas são incapazes de motivar-se, firmar compromissos e se tornar independentes de seus vínculos familiares. Além disso, os jovens Nem-Nem sentem ou percebem que estão sendo progressivamente excluídos de muitas atividades sociais decisivas para seu futuro, porém permanecem por meses, em alguns casos por anos, absorvidos em seus interesses pessoais como, por exemplo, a internet, as redes sociais, os vídeos games, etc. A conseqüência desse processo tem sido o aparecimento de um número crescente de jovens pragmáticos, acomodados e refratários a compromissos coletivos e, portanto, incapazes de abrir novos caminhos sociais. Esta situação é curiosamente paradoxal, pois, ao mesmo tempo em que aumentam as liberdades individuais, os jovens Nem-Nem não conseguem escolher; mais precisamente: quanto maiores são as oportunidades de escolha, menor a capacidade de escolher.
As explicações para esse processo são multivariadas, mas todas parecem reforçar a hipótese da individualização introduzida por Ulrich Beck em Risk Society. Para Beck a individualização compreende um processo no qual o individuo passa a ser o ponto de referência central para si mesmo e para a sociedade, tornando-se a unidade central de toda vida social. A individualização esta associada ao que Beck denomina de processo de “modernização reflexiva”, no qual os processos constituintes da modernidade como, por exemplo, racionalização tecnológica, vínculos sociais e a biografia normal, mudanças de estilos de vida, estruturas de poder e influência, normas de conhecimentos e produção científica, etc., passam a atuar sobre si mesma de forma reflexiva. Neste contexto os indivíduos, progressivamente, enquanto agentes da ação, tornam-se responsáveis de suas próprias biografias, que são estabelecidas por meio de suas próprias escolhas. Isto significa, portanto, que no processo de modernização reflexiva os indivíduos são forçados a escolher a forma de espiritualidade, a profissão, o gênero, a sexualidade, etc. e a conseqüência desse processo é que a individualização acaba por ampliar e limitar as possibilidades de ação dos indivíduos, tornando-se, ao mesmo tempo, uma oportunidade e um risco.
O lado irônico e, ao mesmo tempo, perverso deste fenômeno é que os chamados “filhos da liberdade” tornaram-se os “prisioneiros da apatia”. Como assinala Beck, a dissolução das formas tradicionais de autoridade (dimensão de libertação) associada a perda das formas de segurança (dimensão de desmistificação), não cria formas de inserção social (dimensão de controle). Nesse sentido, o drama da Geração Nem-Nem parece surgir da inexistência de meios reflexivos para se integrar a uma sociedade que se destradicionaliza e individualiza progressivamente. Por um lado, como os jovens Nem-Nem não podem recorrer a nenhum modelo de vida pré-estabelecido, tornam-se conservadores de uma realidade que existe cada vez menos; por outro, os projetos individuais e a idéia de mobilidade social passa ser moldada pelas coações dos meios de comunicação de massa. Parecem sempre em dúvida diante da escolha da formação a seguir e da profissão a escolher, tornando incerto também o fato de que a dedicação, o compromisso, o estudo, o título possam fornecer a correspondente compensação profissional e social. Portanto, para os jovens Nem-Nem não parece ser emocionalmente vantajoso comprometer-se com um projeto de vida definido, por acreditarem que ele estaría sujeito as transformações sociais, e optam por flexibilizar os desejos e compromissos.