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sábado, 29 de janeiro de 2011

Vivendo na vulnerábilidade, agindo nos desastres

1 - O paradoxo dos desastres
Os desastres comportam um paradoxo intrigante: a vulnerabilidade é produzida socialmente pelas formas de couapação do espaço e utilização dos recursos naturais, mas permanece ignorada pela sociedade que só age sobre as variáveis naturais. Porque apesar de produzidos socialmente os desastres permancem desconhecidos sociedade? A resposta é simples: não é a chuva que produz o desastre; o desastre é incubado socialmente pelas formas de reprodução social. Os desastres não são fenômenos naturais, pois tempestades ou chuvas somente se convertem em desastres quando impactam uma população vulnerável. A freqüência e intensidade dos desastres constitui, portanto, o produto da correlação de dois conjuntos de variáveis: 1) o evento (geofísico, meteorológico, hidrológico, etc.); 2) o impacto (habilidade da população para se preparar e se recuperar).


Os desastres constituem um problema de desenvolvimento socioeconômico. Por muito tempo acreditou-se que os desastres constituíssem um problema para o desenvolvimento de uma região: certos fenômenos naturais como, por exemplo, secas, chuvas, terremotos, etc. poderiam obstruir o desenvolvimento de uma região. Mais recentemente, contudo, percebeu-se que na maior parte dos casos os desastres constituem um problema produzido pelo próprio desenvolvimento: certos padrões de desenvolvimento socioeconômico acabam sobrecarregando a capacidade de suporte do ambiente natural. Essa mudança de perspectiva assinala que os desastres deixaram de ser vistos como fenômenos exteriores à sociedade, e passaram a ser concebidos como um produto do padrão de interação sociedade/natureza, mediado pelas estratégias de desenvolvimento socioeconômico.

2 - Novas respostas para velhas questões
Do ponto de vista analítico, um Desastre (D) constitui o resultado da correlação entre o risco de ocorrência de um Evento (E), mais a Vulnerabilidade (V) da população: D = E ↔ V. Isto significa que é necessário o conhecimento tanto das variáveis naturais como, por exemplo, informações meteorológicas, hidrológicas, sísmicas, geológicas, etc., quanto das variáveis sociais relativas ao tipo de organização da população em termos de acessos aos recursos e preparação para ocorrência de um evento. O que vem se observando nos estudos sobre desastres nos últimos anos é a existência de uma assimetria de conhecimento entre estes dois conjuntos de variáveis. Temos muito conhecimento sobre os fatores naturais que incidem sobre os desastres e muito pouco sobre as variáveis sociais. A conseqüência mais evidente desta assimetria é que a maior parte das medidas de confrontação dos desastres incide sobre as variáveis naturais em detrimento das variáveis sociais.

Como podemos notar, a dificuldade de compreender e agir adequadamente sobre os desastres resulta da combinação, sempre dinâmica, da mediação estabelecida pelo processo de desenvolvimento socioeconômico entre a sociedade e natureza. Se um desastre constitui a relação entre um evento físico e a vulnerabilidade da população, podemos afirmar que sua ocorrência compreende a dissolução da rede sociotécnica que associa simbólica e materialmente o mundo social ao mundo natural. Isto quer dizer que cada região ou cada sociolocalização representa simbolicamente (valores) e manipula tecnicamente (processo produtivo) a sociedade e a natureza, estabelecendo configurações específicas da paisagem; mais precisamente, ocupando o espaço e utilizando os recursos de forma específica, formando estruturas urbanas e rurais próprias. Uma barragem, por exemplo, constitui uma forma de adequar o mundo natural ao mundo social variando de significado historicamente de acordo com sua utilização social. Assim, na maior parte dos casos, a atuação sobre as variáveis naturais em detrimento das variáveis sociais se explica pela necessidade de sustentar o padrão de desenvolvimento da região.

3 - Subsídios para confrontação dos desastres
As conseqüências desta mudança de perspectiva representaram uma profunda modificação na definição de estratégias de confrontação dos desastres. O ponto central da análise reside na investigação da vulnerabilidade da população. Nesse sentido, argumenta-se que os desastres obedecem a um “princípio de continuidade”: as condições observadas no período pósimpacto constituem o produto das condições observadas no período préimpacto. Assim, se no Tempo-1 (préimpacto) temos uma situação de vulnerabilidade, esta situação se converte em destruição no Tempo-2 (pósimpacto). Portanto, argumenta-se que quanto mais vulnerável encontra-se uma população no T-1, maior a destruição observada no T-2. Isto significa que a freqüência e magnitude dos impactos dos desastres constituem uma propriedade da capacidade da sociedade de conceber cognitivamente e agir consistentemente sobre o problema em termos de obras que procurem mitigar e prepare a população para a ocorrência do evento. Portanto, podemos dizer que a vulnerabilidade de uma população constitui o resultado de seu padrão de desenvolvimento, pois quanto mais o padrão de desenvolvimento sobrecarregar a capacidade de suporte ambiental, maior são os riscos. Logo, os desastres constituem a materialização da vulnerabilidade; isto significa que a vulnerabilidade exprime a capacidade de absorção de um impacto, que por sua vez depende sempre das condições sociotécnicas da população.
Ao mesmo tempo em se aperfeiçoam os dispositivos de controle

Um comentário:

  1. Marcos
    Parabéns pelo seu blog.
    Nós que estudamos juntos, nunca nos esqueceremos dos belos debates que nos fortaleceram os caminhos a serem trilhados. Já consegui dar palestras até na FURB e todos os cantos da cidade. Acompnaho diversos trabalhos desde ensino médio, fundamental e Universidade Federal SC - em Mestrado, Doutorado...a procura é grande.
    Somos orgulhosos do sucesso alcançados pela grande equipe que começou em 1987.
    Baitabraço
    Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau

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